Servir o vinho em uma taça adequada não é uma questão de esnobismo, como querem alguns, nem tampouco de alquimia, como querem outros. É tão somente uma questão de elegância, de conhecimento e principalmente coerência, uma vez que a taça é, essencialmente, o elemento principal para sorver e degustar o vinho. Afinal de contas é através dela que é apresentado, analisado e servido o vinho. A forma, a espessura, as bordas, a limpidez, e tudo o mais em uma taça, tem influencia clara e direta, na avaliação visual, olfativa e gustativa do vinho.
É ela, a taça, a responsável, de acordo com suas formas e características, pelas descobertas de um número infinito de sensações, de aromas e sabores quando da degustação de um vinho. Para isso concorrem a forma e o tamanho da taça, o diâmetro da embocadura e principalmente a matéria prima utilizada na sua produção. Além do mais, cada vinho tem seu exclusivo conjunto de características e qualidades que necessita ser descoberto. Fundamentado nisso e entendendo as diferentes características de cada um dos vinhos varietais, designers e vidreiros elaboraram taças que são, na realidade, verdadeiros instrumentos de prazer e de análise.
Assim, ao longo das últimas décadas foram criados taças de distintas formas e corpos, com objetivos específicos. Como o tamanho e a forma da taça, interferem sobre os aromas, mediante sua maior ou menor aeração e sua difusão ou concentração, testes e estudos também foram feitos com o propósito de elaborar peças exclusivas para cada vinho. Desta forma, as grandes casas vidreiras, desenvolveram linhas especiais de taças dirigidas a castas e regiões produtoras do Novo e do Velho Mundo além de peças especiais para caldos únicos, como o Porto e o Jerez. Assim, há uma taça para cada tipo de vinho e as mais conhecidas são:
Taça Grand Cru Bordeaux – Taça criada em 1959, desenvolvida para realçar a especificidade dos grandes vinhos de Bordeaux, feitos com Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. É recomendada também para os vinhos: Brunello di Montalcino, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Graves rouge, Listrac, Merlot, os franceses de Médoc, Margaux, Moulis, Pauillac, Pomerol, St. Emilion, St. Estèphe, St. Julien,
Taça Grand Cru Borgonha – Taça criada em 1958, representou um salto qualitativo em termos de concepção. O seu design objetiva realçar as nuances do vinho da Borgonha, caracterizado pela moderada acidez e por taninos moderados. É recomendada também para os vinhos Barbaresco, Barolo, Echézeaux, Gamay, Musigny, Nuits Saint Georges, Nebbiolo, Pommard, Pinot noir, Romanée Saint Vivant, Santenay, Volnay, Vosne - Romanée, Vougeo.
Taça Pinot Noir – Taça desenvolvida para realçar as características organolépticas dos vinhos de Pinot Noir. É recomendada também para os vinhos Beaujolais Noveau, Gammay, Pinotage e Romanée Conti.
Taça para Syrah /Shiraz – Taça idealizada para liberar aromas e sabores dos vinhos de Syrah, notadamente as notas de azeitonas pretas e os sabores que caracterizam a casta. Recomendado também para os vinhos: Amarone della Valpoliccela, Barbera e os da região do Rhone.
Taça para Chardonnay – Taça concebida para destacar as características aveludadas e a complexa textura encontrada nos vinhos Chardonnay. Além do mais, permite que os vinhos jovens possam expressar toda a sua frescura revigorante e os vinhos mais maduros são incentivados a liberar as notas de especiarias e minerais tão típicas da variedade. Recomendada também para os vinhos: Albariño, Bourgogne Aligoté, Chablis, Chenin Blanc, Corton-Charlemagne, Hermitage blanc, Marsanne, Meursault, Pinot (Blanc, Grigio, Gris), Sauvignon-Sémillon (Barrique), Viognier.
Taça para Sauvignon Blanc – Taça adequada para todos os estilos de Sauvignon Blanc, desde os minerais vinhos do Loire aos refrescantes e pleno de frutas cítricas e tropicais da Nova Zelândia, passando pelos frescos e vibrantes Pinot Grigio. Recomendado também para: Bordeaux (branco), Chenin Blanc, Fumé Blanc, Gewürztraminer, Loire (Blanc), Sémillon. Ao longo do tempo outras taças foram feitas para vinhos tintos e brancos, das mais diferentes regiões produtoras do mundo, tornando o ato de degustar o vinho algo cada vez mais prazeroso. Afinal de contas, como dizia um vidreiro de antigamente “ a vida é demasiadamente curta para se beber um bom vinho em uma taça inadequada”.